segunda-feira, janeiro 30, 2017

Conversa de Trump e Putin: mais perguntas do que respostas?






À primeira vista, podemos falar de uma conversa de partida promissora, onde os dirigentes russo e norte- americano prometem trabalhar juntos com vista à solução dos problemas bilaterais e internacionais. Porém, serão certamente processos longos e complicados, não estando o êxito garantido.

Vejamos, no campo das relações bilaterais, Donald Trump e Vladimir Putin prometem estabilizar e desenvolvê-las “numa base construtiva, de igualdade e mutuamente vantajosa”.

Porém, aqui coloca-se a primeira questão: como irá ser isto feito tendo em conta um complicado e amplo sistema de acções de sanções e contra-sanções? Será que Donald Trump está disposto a levantar total ou parcialmente as sanções contra a Rússia sem contrapartidas da parte desta?

É duvidoso esperar que assim seja. Além de ter contra si a maioria dos senadores no Congresso no que respeita a este tema, isso significaria o perdão da invasão da Ucrânia e da anexação da Crimeia por Vladimir Putin. Para um Presidente que diz querer que o seu país vai continuar a ser o Nº 1, isso é difícil imaginar.

Antes da conversa telefónica, membros da equipa de Trump propuseram o levantamento de sanções a troco de uma redução dos armamentos nucleares russos, o que o Kremlin recusou imediatamente, sublinhando que isso só pode ser feito se for mantido o equilíbrio entre os dois países.

Tem razão Donald Trump quando afirmou, antes da mesma conversa, que ainda era cedo para se falar do levantamento das sanções. A acontecer, penso que irá ser um longo processo.

Os presidentes russo e norte-americano decidiram estabelecer uma “coordenação real das acções dos russos e americanos com o objectivo de liquidar o DAESH e outros grupos terroristas na Síria”. Até agora, isso não foi possível devido às divergências entre Putin e Obama face aos grupos da oposição a Bashar Assad, bem como em relação ao próprio dirigente sírio. Se Trump, tal como prometeu, continuar a pretender liquidar os terroristas do Estado Islâmico rapidamente na Síria e no Iraque, precisará de realizar operações militares de grande envergadura, o que poderá entrar em contradição com os interesses russos na região. Além disso, na Síria, combatem destacamentos iranianos e o Presidente norte-americano parece não estar muito virado para a cooperação com Teerão.

Moscovo deverá querer ter uma palavra se os militares norte-americanos decidirem criar zonas de segurança para a população civil, fechando os céus à aviação militar. Até agora, os generais russos defendem que as “pausas humanitárias” e as “zonas de segurança” apenas dificultam o combate aos terroristas, pois permitem o reagrupamento dos destacamentos destes.

Trump e Putin abordaram também o conflito na Ucrânia, não tendo sido revelado pormenores. Este será também um dos problemas de difícil resolução, tendo em conta a presença militar russa nesse país e o arrastamento do Processo de Minsk, onde separatistas pró-russos e dirigentes ucranianos, tendo como intermediários a Alemanha, França e Rússia, não podem chegar a acordo sobre o estatuto de algumas regiões do Leste da Ucrânia. Um novo impulso à normalização poderá ser dado pela participação norte-americana neste processo, mas isso levantará receios entre os ucranianos e os europeus de que Trump poderá sacrificar os interesses deles.

Talvez a mais importante decisão tomada na conversa telefónica seja a decisão dos presidentes de “manterem contactos regulares” e ordenarem às suas equipas para preparem o lugar e a data de um encontro entre eles, pois isso será um sinal de que o processo de normalização das relações entre Moscovo e Washington irá mesmo avançar.

É de assinalar que nem o Kremlin, nem a Casa Branca revelaram se na conversa se abordaram temas como o futuro da NATO ou a intenção de Trump de instalar sistemas de defesa anti-míssil na Europa. Ora isto são matérias que dificultam seriamente o diálogo entre a Rússia e os Estados Unidos. 

A julgar pelas declarações de políticos e analistas ligados ao Kremlin, a conversa telefónica ultrapassou todas as perspectivas, mas estamos perante um Presidente norte-americano que já mostrou mudar frequentemente de ideias. Além do mais, Trump tem todas as características de um dirigente duro e autoritário, que não fala com os restantes parceiros como iguais, mas gosta de dar ordens. Putin é do mesmo tipo, mas com uma diferença substancial: os Estados Unidos continuam a querer ser o primeiro no mundo.

9 comentários:

Pi-Erre disse...

"...estamos perante um Presidente norte-americano que já mostrou mudar frequentemente de ideias. "

Exemplos?...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Face à tortura, por exemplo.

Anónimo disse...

haaaaaaaaaaa ... "no boots on the groud" !

Pi-Erre disse...

Mudou de ideias? Como? Pode explicar?

Anónimo disse...

Credo Milazes... Voce é tãooooo bicha mazinha. Parece a velhas cuscuvilheiras e linguareiras sempre a meter veneno. O que o tornou assim?

antónio m p disse...

O Pi-Erre só tem razão porque Trump simplesmente não tem ideias, tem paleio. E más companhias, essas sim, com ideias... perigosas.

Pi-Erre disse...

Olha, agora aparece um "advogado" de José Milhazes , a "explicar" O assunto. Então diga lá em que consiste o tal paleio, quais são a más companhias de Trump e que ideias perigosas são essas. EXPLIQUE-SE.

Unknown disse...

Cito: "Putin está a fazer tudo para evitar irritá-lo, preferindo aproveitar a indefinição e a confusão reinantes na política externa norte-americana para conquistar terreno na Ucrânia e na Síria, bem como para enfraquecer a União Europeia."

Em que é que se baseia para dizer uma mentira destas? Agora, pr.VV Putin também é culpado de enfraquecer a União Europeia?
A estimação dos prejuízo das sanções contra a Rússia, para os países da EU, é de 100 biliões US$, e de 2,5 biliões de empregos.
Além do prejuízo económico, o crescente descontentamento nas populações dos países da EU, tem vindo a aumentar, e a alimentar os sentimentos anti-EU, e os partidos de extrema-direita, à custa da revolta com as contínuas medidas contra os próprios interesses necessidades e vontades dos cidadãos.
O Kremlin avisou antecipadamente que as sanções poderiam ter como resultado a substituição das relações comerciais com os países Europeus, por outros, da Ásia e da América do Sul. A EU continuou impondo sanções.
E é Vladimir V. Putin que enfraquece a Europa? Foi ele que inventou as sanções?
A EU tem expulsado a Rússia de reuniões e "summits", impedindo-a de participar em inúmeras resoluções.
E foram eles é que criaram conflitos e enfraqueceram a Europa?
A Rússia queria ser uma parte da Europa, vivendo em paz com os outros países europeus,e em paz com os EUA. Apesar de todos os problemas que eram provavelmente inevitáveis para alcançar isso, não foi essa a sua crença e vontade?
Apesar de todas as dificuldades, deveríamos procurar alcançar algo tão próximo desse plano quanto possível.



Unknown disse...

Ah bom, afinal, aqui, já as sanções não são um problema entre a França, Alemanha - o Minsk - e a Rússia... Não: aqui, afinal, já o problema das sanções, é uma coisa de que o presidente americano põe e dispõe conforme entender, enquanto que é a Europa, tadinha, com nada a dizer, que paga os 100 biliões de dólares.
Aqui, já surge a verdade: que quem impôs as sanções, foram os EUA, e não a Merkel.
Ora bem: vejamos o que poderia a EU (em crise financeira, e austeridade, dizem sempre) ter feito com esse dinheirinho?